Revista Nova Escola, Editora Abril, 23 de Julho de 2008
Crônica da informatização escolar
Sempre acanhado, uso do computador no ensino é tido como precário pela
própria secretaria paulista de Educação, que promete (de novo) revolução
nos próximos anos. Por Gustavo Heidrich.
O pedido era simples. Que a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo
apontasse uma escola referência no uso dos computadores no Ensino
Fundamental. A resposta demorou, mas chegou. Só que não trouxe apenas um
endereço, um telefone e o nome de um diretor. Funcionou também como uma
fotografia do difícil quadro em que se encontra a inserção dessa
tecnologia no trabalho do professor. A sugerida E.E. D. Cirene Laerte,
no Jaçanã, na capital, apesar de ser o "cartão de visitas do governo",
está longe de ser um exemplo.
"Não usamos o laboratório de Informática há pelo menos dois anos. A
maioria dos professores não tem familiaridade com o equipamento, nem
sabe como fazer um projeto didático para uso dos PC's. Isso sem
mencionar que são 12 máquinas para turmas que têm pelo menos 40 alunos,
sem manutenção nem auxílio técnico. O professor tem de fazer tudo, de
pensar na aula a ligar cada computador", contou uma professora da unidade.
Já o diretor da escola, Edílson Henrique Marques, reclama da falta de
orientação. "Faz muita falta um professor específico para coordenar o
uso dos computadores, tanto na parte técnica quanto na pedagógica. Na
prática, os educadores ficam com receio de usar o equipamento e não
levam seus alunos ao laboratório. Só aqueles que já têm familiaridade
com a informática se sentem mais à vontade. Na manutenção, não temos
recursos próprios e ficamos na dependência da diretoria de ensino ou da
boa vontade da comunidade local", diz.
A titular da pasta da Educação em São Paulo, Maria Helena Guimarães,
afirmou recentemente que 97% das 5.500 escolas da rede paulista possuem
laboratórios de Informática e 80% têm obertura de internet banda larga.
"Mas as salas de informática ficam sem manutenção. Eu mesma visitei a
Escola Estadual Carrãozinho 3 (na zona leste paulistana) e encontrei
pilhas de computadores parados porque não havia quem os instalasse",
contou ela, que já anunciou mudanças na gestão, além do lançamento do
programa Acessa Escola, que promete ser uma inovação no setor.
Mas os diagnósticos de que a estrutura vai mal são vários. A Fundação
Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) realizou um levantamento entre
abril e maio nas escolas com melhores e piores médias no Índice de
Desenvolvimento da Educação de São Paulo (Idesp), criado pela rede
estadual para definir metas de qualidade. Segundo dados obtidos com
exclusividade por NOVA ESCOLA ON-LINE, dos diretores da 379 unidades com
pior índice, 12% afirmaram que os laboratórios de informática não
estavam funcionando.
Uma análise da Fundação para Desenvolvimento da Educação (FDE),
instituição ligada à Secretaria Estadual de Educação e responsável pela
infra-estrutura das escolas paulistas, aponta que dos cerca de 75 mil
computadores utilizados pela rede pública, 10 mil apresentam problemas
de funcionamento de diversas ordens.
"Nos últimos anos, não havia centralização nem um sistema de manutenção
dos computadores. Tudo ficava a cargo de cada uma das 90 diretorias de
ensino, que tinham de dar conta de suas escolas. O resultado eram 30 a
50 contratos com empresas diferentes para dar suporte técnico aos
laboratórios. Era impossível controlar a qualidade desse serviço",
admite Fábio Bonini de Lima, presidente do FDE.
Segundo ele, tampouco existia organização para a compra dos
computadores. "As aquisições eram feitas a golfadas, quando havia verba.
Eram adquiridos computadores de até quatro fornecedores diferentes",
afirma. Como cada fabricante oferece uma garantia diferente, quando os
computadores quebram é preciso identificar a procedência para depois
iniciar o processo de atendimento.
Outra complicação eram as máquinas enviadas às escolas pelo Ministério
da Educação e pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
"Os computadores chegavam, mas o MEC não se encarregava da instalação.
Assim, muitas vezes eles acabavam empilhados", explica Lima.
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